Trecho da entrevista a Isoyama Shihan-8 Dan Antigo aluno do Fundador, concidida a
Stanley Pranin para o Aikido Journal Magazine copiado do blog Soshin Dojo, que por sua vez copiou do site da Brasil Aikikai.

Como você diria que sua ênfase na importância do Budo no Aikido se desenvolveu?
Por eu estar numa posição de ensino do Aikido, eu sinto que devo me manter orientado numa direção consistente. As pessoas praticam o Aikido por uma série de razões — para se manterem em forma ou saudáveis — mas é claramente o “Budo” que é a corrente fluente que existe por debaixo do Aikido. Não há problemas com as pessoas praticando Aikido por uma simples razão de os manter em boa forma, mas eu acho que eles deveriam ainda cultivar o tipo de vigilância constante que se deve Ter para se evitar dar aberturas aos potenciais oponentes. Esse é um aspecto oculto no Budo e de suma importância, e eu penso que ao se negligenciar ou dar pouca importância a isso em seu treinamento, resultará em uma grande divergência com o verdadeiro espírito do Aikido.
O pensamento do Fundador se modificou ao correr dos anos em que começou a ensinar o Aikido até o final de sua vida, por isso, naturalmente os tipos de movimentos que ele utilizava também se modificaram. Existem pouquíssimas pessoas que tiveram direto contato com ele durante essas várias décadas e, devido a isso, em muitos aspectos é como estória dos três homens cegos que apalpavam três partes diferentes de um elefante, dando descrições diferentes entre si sobre o que era um elefante. Nesse sentido, eu imagino se existe alguma pessoa capaz de entender a grandeza do O-Sensei em sua totalidade.
Algumas pessoas tiveram contato com o O-Sensei durante o tempo em que ele difundia o Aikido puramente como um Budo; outros somente começaram a aprender com ele quando seu pensamento evoluiu e ele enfatizava o Aikido como “um caminho para a harmonia”; outros ainda, estiveram com ele durante outros períodos de sua vida. Todos eles terão pontos de vista e interpretações diferentes, e eu acho que é impossível dizer que qualquer uma das interpretações seja a melhor que as outras.
Eu também acho que existem diferenças de acordo com e a idade do aprendiz. As pessoas mais jovens naturalmente procuram um tipo mais forte de Aikido, enquanto que os mais velhos podem Ter sido atraídos aos aspectos mais espirituais e harmônicos, e assim sendo, isso é o que cada um absorve dos ensinamentos do O-Sensei. Assuntos como esse tornam muito difícil de se falar do Aikido de uma maneira mais definitiva.
Como você sabe, o O-Sensei nunca escreveu muito sobre Aikido em livros, mesmo assim, algumas de suas técnicas estão gravadas no livro “Budo“. Algumas vezes penso no porque de ele não Ter escrito mais sobre o Aikido, mas por outro lado, acho que compreendo: eu pensamento gradualmente foi evoluindo, e ele pode Ter sentido que qualquer coisa que ele escrevesse em seus anos de juventude, poderia acabar sendo potencialmente contraditório com seus pensamentos mais tarde. A mesma verdade existe em sua técnicas: se ele houvesse dito alguma coisa definitiva sobre elas em qualquer época, ele poderia acabar se contradizendo mais tarde em sua vida, devido a sua evolução.
Outra dificuldade que existe é a de diferentes pessoas que tendem a querer interpretar as palavras do O-Sensei em maneiras diferentes, mesmo que ele, na verdade, tenha dito a mesma coisa para todas elas. As pessoas então, tendem a expressar suas próprias interpretações como se tivessem absorvido tudo o que ele queria dizer e, por isso, os levam a outras variações, o que acaba causando eventuais desentendimentos.
Quando o O-Sensei ensinava, ele nunca dava nenhuma explicação detalhada em particular. Uma das razões era que muitas das pessoas que vinham treinar Aikido com ele, eram sempre pessoas de alto nível social, como oficiais militares, políticos, pessoas altamente graduadas de outras artes marciais, pessoas do setor financeiro, administradores de grandes empresas, e muitas outras pessoas importantes e respeitadas em seus ramos de negócio. Dar detalhes demais para pessoas assim, por exemplo, ensiná-los coisas como: “essa é a maneira correta de se curvar ao se cumprimentar” e coisas do tipo, seriam consideradas como humilhantes e ofensivas.
Durante o treinamentos, O-Sensei sempre se dirigia em linguagem respeitosa e educada aos indivíduos de alto nível na sociedade e a nós alunos comuns. Eu ficava muito comovido por essa atitude de interagir com as pessoas.
Um exemplo pode ser o debate sobre o atemi, que quase não existe mais como parte da maioria das técnicas de Aikido. Qual é o seu pensamento sobre o uso do atemi, de um ponto de vista de combate?
Fazer o atemi somente por fazer, resulta em nada mais do que uma forma vazia. Não há necessidade de se dar um atemi, a não ser que seu golpe é o tipo de golpe que terá um efeito real. Um atemi não tem que necessariamente resultar em um golpe fatal, mas deve ser capaz de causar um certo estrago real. Também, se você quiser pensar seriamente sobre atemi, você terá que pensar também sobre os chutes.
Karate, por exemplo, tem excelentes técnicas de chute e socos. Eu diria que a maioria dos movimentos do Karate é predominantemente em linha reta, enquanto que no Aikido tende-se a enfatizar os movimentos mais circulares ou esféricos. Ambos tem seus pontos fortes e deficiências, e eu não acho que você pode dizer incondicionalmente, que um é melhor do que o outro. Em todo caso, se você vai usar socos ou chutes como atemi no Aikido, você precisa pensar constantemente em como deve incorporá-los, de maneira que seja considerado o timing e outras características dos movimentos do Aikido.